Transformar o leite in natura em queijo artesanal de valor agregado tem se mostrado mais que uma alternativa de renda: é um novo modelo de negócio para pequenos produtores do semiárido potiguar. Essa estratégia, liderada pela Associação de Empreendedores do Leite (Empreleite), estará em destaque na 63ª edição da Festa do Boi, entre os dias 10 e 18 de outubro, no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim.
Com um estande colaborativo, a Empreleite leva à feira uma vitrine de queijos premiados, cafés especiais, geleias e biscoitos — produtos que traduzem a identidade do terroir potiguar. A proposta é apresentar ao público como o investimento em queijarias artesanais vem se consolidando como um novo nicho de valorização econômica para quem enfrenta os desafios da produção de leite em regiões de baixa produtividade.
Criada em 2022, a Empreleite já reúne dezenas de produtores que apostaram na transformação do leite como forma de driblar a baixa lucratividade do produto cru. Segundo o presidente da entidade, Marinho de Sousa, com cerca de R$ 30 mil é possível montar uma queijeira legalizada e multiplicar em até cinco vezes o faturamento. A associação oferece apoio técnico e gerencial em todas as etapas: do projeto físico à validação dos produtos.
“Nosso papel é incentivar o produtor a identificar suas potencialidades. E a verdade é que vender leite em pequena escala, especialmente no semiárido, com pouca mão de obra e baixa tecnificação, simplesmente não se sustenta. Então o queijo acaba sendo a saída mais viável para se manter na atividade, e pode até quintuplicar o faturamento em comparação ao leite”, destaca o presidente da entidade, Marinho de Sousa.
A exigência para fazer parte da entidade, no entanto, é rígida. Os associados devem trabalhar com, no máximo, 500 litros de leite por dia, exclusivamente do próprio rebanho. A regra é mais restritiva que a legislação estadual vigente, que permite até 2 mil litros diários e a compra de leite de terceiros. A premissa da Empreleite é que o controle total da produção — da ordenha à maturação — garante autenticidade e qualidade ao queijo artesanal. “A lei permite comprar de outros produtores, mas nós acreditamos que o artesanal de verdade precisa começar no próprio leite, desde a ordenha até a maturação do queijo”, reforça o presidente da Empreleite.
A dedicação a esse modelo mais exigente já rende frutos. A produtora Micarla Fernandes, da Fazenda Lima (São Pedro), conquistou o título de Superouro no último Encontro Nordestino do Setor de Leite e Derivados (ENEL), com um queijo maturado no café Jaçanã, também potiguar. Hoje, cerca de 80% da sua produção de leite é destinada à maturação de queijos especiais, segmento que impulsionou o crescimento da fazenda.

Histórias como a da Fazenda Barreiras, em Encanto, também ilustram a transformação vivida pelos associados. Com uma produção que saltou de 14 para 400 litros diários em cinco anos, o produtor Manacés Leite comemora as medalhas conquistadas com seu queijo coalho. Para ele, a atuação da Empreleite foi essencial para profissionalizar o negócio e alcançar novos mercados.
Todos esses produtos estarão disponíveis ao público na loja colaborativa da Empreleite durante a Festa do Boi. A entidade busca, com sua participação, não apenas divulgar os queijos artesanais do estado, mas reforçar um novo caminho de sustentabilidade para o pequeno produtor: agregar valor com identidade regional e protagonismo no mercado.
Texto por: Saiba Mais – Agência de Reportagem