“Ela foi uma pioneira para a época dela. Nós, mulheres de hoje, nem temos ideia do que as mulheres do passado precisaram enfrentar para que pudéssemos estar aqui. Imaginar uma mulher discursando, naquela época, para um grupo de homens, donos de engenho, falando sobre doar um pedaço de terra, isso mostra a grandeza e a coragem de Amélia”.
A fala da escritora Maria Elza Cirne, autora do livro “Viúva Machado – A grandeza de uma mulher”, abriu a homenagem a Amélia Duarte Machado e Graco Magalhães, realizada nesta segunda-feira (13), no Parque Aristófanes Fernandes.

O evento, promovido pela Associação Norte-Rio-Grandense (ANORC), reuniu representantes do agronegócio e admiradores da história potiguar para celebrar duas personalidades fundamentais para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Amélia e Graco foram os responsáveis pela doação do terreno onde o Parque foi construído, um gesto visionário que permitiu o crescimento da pecuária e a consolidação da tradicional Festa do Boi, uma das maiores do Nordeste.
“Viúva Machado, com toda sensibilidade, doou essa área para a construção de um parque de vaquejada. Temos um agradecimento imenso por esse ato”, destacou Matheus França, presidente da ANORC. O vice-presidente Eduardo Melo complementou, “Ela foi uma mulher muito injustiçada pela sociedade da época. Ainda não tínhamos feito uma homenagem a ela, e hoje isso se concretiza. Nessa doação, ela construiu um orgulho para o Rio Grande do Norte. É uma homenagem mais que justa”.

Durante o evento, Maria Elza Cirne falou sobre a importância de registrar a verdadeira história da mulher que marcou o Estado. “Meu objetivo foi resgatar a verdadeira história dela e não aquela lenda urbana. Hoje existe um registro real de quem foi a mulher que doou o terreno do parque. O objetivo do livro foi plenamente alcançado”.
O jornalista Vicente Serejo também compartilhou sua experiência com a personagem histórica. “Eu tinha dois sonhos como repórter: entrevistar Dona Maria e Dona Amélia. Sabia que seria difícil chegar até ela. Ninguém tinha acesso, nem foto, nem documento. Eu sacrifiquei um pouco o texto, porque não consegui mostrar a vítima, mas consegui revelar a mulher por trás da lenda”, contou.

A família de Amélia enviou uma mensagem emocionada:
“Ficamos profundamente honrados com o convite e com a homenagem que muito nos sensibiliza. Agradecemos sinceramente ao reconhecimento e pela lembrança tão especial. Infelizmente, por motivos de força maior, não pudemos comparecer à cerimônia, mas desejamos pleno sucesso ao evento, que certamente foi uma ocasião marcante e emocionante para todos os presentes.”
A cerimônia foi marcada pela entrega de duas placas comemorativas instaladas no Parque Aristófanes Fernandes, uma em homenagem a Amélia Duarte Machado, pela doação do terreno, e outra a Graco Magalhães, pela contribuição decisiva na criação do espaço que hoje abriga a Festa do Boi.

Oficial da Força Aérea Brasileira (FAB), Graco Magalhães trocou a aviação militar pela civil quando foi convidado, no governo de Aluízio Alves, a ser piloto oficial do Estado, o que lhe rendeu a alcunha de “piloto dos governadores do Rio Grande do Norte”. Emocionado com a homenagem, Antônio Carlos Magalhães, filho de Graco, destacou, “Fico muito feliz por essa homenagem ao meu pai. É um reconhecimento merecido à sua trajetória e à dedicação que sempre teve pelo nosso Estado”.

